A NOVA ORDEM INTERNACIONAL

A NOVA ORDEM INTERNACIONAL

Quando o “Modelo Socialista Soviético” se vira esgotado, após as mudanças estruturais promovidas por Gorbatchev e continuadas pelos diversos novos países adentrados no Sistema de Mercado, acreditou-se, a princípio num aumento da hegemonia dos EUA. Posteriormente, viu-se que o “modelo” de dominação com base no uso de força militar, empregado em grande volume pelos EUA, não estava lhe rendendo os resultados políticos esperados. Bem ao contrário disso, criava-se um certo antagonismo aos métodos truculentos estadunidenses e ressurgiam potências adormecidas diplomaticamente por todo o período de Guerra Fria. Pode-se notar o fim da bipolaridade mundial (EUA x URSS) e o surgimento da multipolarização das decisões.
O fim do mundo bipolarizado da Guerra Fria não significou a eliminação automática dos conflitos e atritos internacionais. Hoje esse confronto se reveste de um conteúdo muito mais econômico-comercial do que político-ideológico.
Com isso, podemos afirmar claramente que o mundo substituiu um tipo de “guerra” por outro.
Entretanto, embora se dê a entender que este tipo atual é menos maléfico do que o primeiro, trata-se apenas de ilusão, pois os efeitos catastróficos sobre os países pobres pioram, principalmente por causa das “novas” regras “mundializadas”, que expuseram as nações de economias frágeis à perversidade dos interesses individuais dos grandes empresários e donos do capital de financiamento internacional, que geram crises, miséria, desemprego e violência de compatriotas, “simplesmente” para defenderem os seus investimentos e lucros.
Nesse estágio do desenvolvimento produtivo, em que predomina a internacionalização do capital, consolida-se a interdependência crescente das grandes transnacionais, ultrapassando suas fronteiras de origem e colocando as questões nacionais em segundo plano. Os interesses dos Estados ficam, mais do que nunca, atrelados aos interesses do capital internacional.
O fim do Século XX será lembrado como um período de muitas transformações no mundo. Elas impressionaram pela forma inesperada e veloz com que ocorreram e pela divulgação que tiveram. Isso aumentou as incertezas sobre a ordem mundial em que vivemos. Afirma-se com freqüência que o planeta atravessa, agora, uma “desordem” mundial. Vários livros didáticos e atlas geográficos sofreram reformas para atualizar suas análises e descrições e seus mapas. No entanto, essa tarefa de acompanhamento parece inglória, já que nada indique qualquer tipo de estabilidade no nosso conturbado planeta. Algumas questões imediatamente se impõem. Essa insegurança se justifica? Os fatos que se precipitaram apontam rupturas radicais? Acreditamos que a discussão exige que trilhemos outros caminhos. Não será o caso de repensarmos os próprios métodos de análise até aqui utilizados? Afinal eles, em geral, se mostram incompatíveis com os rumos dos acontecimentos. O maior exemplo era a crença na existência de uma sólida ordem mundial, sustentada na oposição entre socialismo e capitalismo. Crença essa que se mostrou, com rapidez incrível, ser infundada.
Há quanto tempo são usadas as mesmas classificações sobre a organização ou regionalização dos espaços internacionalizados – capitalismo x socialismo; países desenvolvidos e subdesenvolvidos; Primeiro Mundo, Segundo Mundo e Terceiro Mundo; centro e periferia; divisão internacional do trabalho; ordem mundial e outras mais – sem que se questione seus fundamentos?

A REGIONALIZAÇÃO DO MUNDO

As diferentes classificações regionais do mundo que apontamos anteriormente (países do Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos, desenvolvidos, subdesenvolvidos, etc.) são tentativas de agrupar os países segundo características comuns. Por exemplo, os países desenvolvidos teriam particularidades que os tornariam distintos dos subdesenvolvidos.
Essas classificações convencionais que procuram entender a divisão regional do mundo têm validade, mas nos parece claro que todas elas merecem uma rediscussão profunda e não apenas uma simples atualização. E nada melhor do que aproveitar um período agitado por transformações para revermos os métodos de interpretação do mundo moderno.
Vejamos algumas modificações no mundo em que vivemos.
O chamado bloco socialista revela uma crise de morte, com a falência e desmembramento da URSS e dos regimes da Europa Oriental, contrariando as análises anteriores. A Europa Ocidental unifica-se de forma ousada, criando a União Européia (EU). O Japão assume o papel de 2ª grande potência econômica e influencia decisivamente o Extremo Oriente, onde investe nos Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong), China e Austrália. Os EUA, a grande nação deste século, têm sua hegemonia econômica e político-militar contestada e também conduzem um processo de unificação regional através do NAFTA (North American Free Trade Association) com o México e Canadá.
No chamado Terceiro Mundo, o panorama de pobreza e degradação social se agrava, desmentindo a ilusão do progresso constante e irreversível da humanidade. A América Latina debate-se contra dificuldades econômicas e a miséria social. O continente africano sucumbe diante da fome, guerras e epidemias. No Oriente Médio as reações contra a expansão do mundo ocidental intensificam-se. A ameaça se expressa com o crescimento e fortalecimento dos regimes fundamentalistas antiocidentais, com destaque para o estado Islâmico do Irã. Todos esses fatos, lembrados rapidamente, de uma forma ou de outra causam problemas aos critérios de classificação regional adotados habitualmente.
Países com situações tão diversas como Brasil, Argentina, México, Egito, Índia, Coréia do Sul, Tailândia, Irã, Iraque, etc. cabem na idéia de Terceiro Mundo ou de países subdesenvolvidos ou ainda países em desenvolvimento? Como avaliar o fenômeno do desenvolvimento econômico dos Tigres Asiáticos, considerados até recentemente como explorados e condenados ao subdesenvolvimento, passaram por duas décadas de crescimento, sofrendo grande Crash, no final de 1997, início de 1998? Não há respostas simples para essas questões.

ORDEM MUNDIAL

A idéia de ordem mundial tem tido um uso cada vez mais freqüente. Os eventos mundiais dos anos 80 são os responsáveis pelo uso constante da expressão. É bom começar lembrando que essa idéia sempre esteve mais ligada à dimensão política das relações entre os países. É no quadro da idéia de ordem mundial que se abordava o confronto, que muitos consideram o mais importante do século, capitalismo x socialismo, além dos conflitos bélicos (guerras) e das relações de poder entre as nações.
As decisões políticas, contando também com as forças das armas, seriam as principais responsáveis por uma dada ordem mundial, superiores nesse caso aos fatos econômicos. Assim, seriam os Estados nacionais mais poderosos (como os EUA e a URSS) os atores fundamentais dessa ordem. Suas atitudes refletiriam mais do que simplesmente a defesa de interesses materiais de cada um. Corresponderiam à defesa de visões diferentes de mundo, em todos os planos da vida social.
A idéia de ordem mundial tem sua validade. Seu principal mérito é o de incluir a política (as relações de poder, as guerras) como elemento de entendimento do mundo moderno e de sua diferenciação regional. Porém, atualmente, baseada na idéia mundial, surge em contrapartida a idéia de “desordem” mundial, que refletiria de forma mais justa o final do Século XX. Afinal, a ordem mundial baseava-se no equilíbrio de forças das duas potências mundiais e esse equilíbrio não existe mais. Assim, pelo menos transitoriamente, estamos numa situação de desordem, em que estaria sendo gestada uma nova ordem mundial.
Estaríamos de fato vivendo essa situação? Eis mais uma resposta que não pode ser simplificada. Mas alguns acontecimentos recentes contribuem para se pensar na questão.
Por ocasião da Guerra do Golfo, ocorrida no inicio de 1991, a ousadia de Saddam Hussein estaria ameaçando a ordem mundial e não foi longe de seu intento, já que feria interesses ocidentais.
Desse modo, parece ter havido uma mudança de atores, sem que o roteiro (nesse caso a ordem mundial) tenha apresentado mudanças significativas. Mas o número de atores (países) que se envolveram em questões de âmbito internacional, a partir dessa Guerra, aumentou consideravelmente, demonstrando que, daí em diante, as decisões passariam por outras esferas, que não só a soviética e a estadunidense.
A nova ordem internacional parece caminhar para uma divisão do mundo em três grandes áreas sob hegemonia da tríade formada por Estados Unidos, Japão e Comunidade Econômica Européia. Segundo o FMI, em 1980 esse conjunto de países era responsável por 50% do total dos investimentos mundiais diretos; hoje eles controlam 81% destes investimentos. Observados os investimentos regionais, verifica-se que cada membro da Tríade investe mais nos países que compõem sua área de hegemonia. Na América Latina, 61% dos investimentos foram realizados pelos Estados Unidos. Na Ásia, 52% pelo Japão e, no Leste Europeu, 64 % pela UE.

MUNDO DOS BLOCOS/ OS BLOCOS ECONÔMICOS


A formação de blocos econômicos não é um fenômeno que surgiu do nada. Principalmente após a Segunda Guerra Mundial, muitos organismos internacionais (entre nações) vêm sendo articulados, com o objetivo de aumentar os mercados e os laços de cooperação econômica entre os países membros.
Alguns exemplos podem ser citados:

· CEAO (Comunidade Econômica da África Ocidental), formado por Benin, Costa do Marfim, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal, Burkina Faso;
· BENELUX Associação que reproduz o nome de seus componentes: Bélgica, Holanda e Luxemburgo;
· ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), cujos os membros são: Cingapura, Filipinas, Indonésia, Malaísia e Tailândia;
·AELC (Associação Européia de Livre Comércio), que reúne Áustria, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia e Suíça;
·ALADI (Associação Latino-americana de desenvolvimento e Intercâmbio), cujos os membros são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Uruguai e Venezuela;
·APEC (Associação de Cooperação econômica da Ásia e do Pacífico), que reúne EUA, Canadá, México, Chile, Japão, china, Tigres Asiáticos, Austrália, Nova Zelândia, Brunei e países da ASEAN.
Esses são organismos regionais. As formas de cooperação em cada um dessas organizações e a intensidade de relacionamento entre seus membros variam muito. Algumas delas só existem no papel, outras já expiraram com o tempo.
Formalmente trabalham para ampliar a cooperação no futuro, mas pouco realizam atualmente. É o caso, por exemplo, da ALADI, instituída em 1960.
Porém foi no interior da ALADI que se gestou algo que se apresenta muito promissor: é o MERCOSUL, integrado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Visa constituir-se em um mercado comum, com a queda de barreiras alfandegárias e a livre circulação de mercadorias, capitais e trabalhadores.
Foi na Europa que concretamente esses esforços de cooperação regional vingaram. Já havia algum tempo funcionava o BENELUX. Posteriormente o MCE – Mercado Comum Europeu, que preparou a atual UE – União Européia. Em 1957 foi firmado o tratado de Roma, que fecundou a idéia de unificação européia no então MCE. Outro organismo poderoso que foi criado é o NAFTA – North American Free Trading Association –, o mercado comum norte-americano, como veremos a seguir.